quinta-feira, novembro 29, 2007

corda bamba

A noite que sentes em ti, a dúvida que cresce em ti, o facto de não saberes o que vais escolher,
de não saberes onde é que estás a errar, ou se quer se estás a errar... faz-te sentir assim...
nem muito bem, nem muito mal... nem muito feliz nem muito triste... sempre à beira de um sorriso e de uma lágrima, sempre no meio da certeza e da incerteza, sempre na corda bamba...
vives uns dias melhores outros piores, mas sempre com a ansiedade de poder ser mais ainda, de sentir mais ainda, de viver mais ainda, de fazer mais e mais coisas...
e tudo isto, tornam-te em alguém assim.. alguém que quer ser melhor do que realmente é...
eu sei que o tempo te foge das mãos, e que 20 anos não são nada e que no fundo são tudo o que tens... sei que tudo (quase tudo) é efemero, e que cada momento que se vive é menos um momento que se vive... porém, não te esqueças, que eu, pelo menos eu, não vou a lado nenhum sem ti...ao menos essa certeza, podes ter...
=)

sábado, novembro 17, 2007

desassossego

... é o segundo post que coloco num espaço de 24 horas... lolol pode pensar-se que não tenho nada para fazer, mas isso seria falso visto que deveria estar a estudar, ou então a ver o jogo de portugal (ou melhor devia estar a tocar visto ter concerto amanhã a noite)...
porém, a questão não é essa... hoje resolvi ler um pouco do livro do desassossego do Bernardo Soares, e o facto é que fiquei... bem nem sei como fiquei (talvez desassossegada), mas no mínimo colocou-me a pensar... ora como não me apetece ficar "sozinha" hoje a olhar para o tecto do meu quarto a pensar nisto tudo, achei por bem , colocar três excertos... lol assim sempre posso pensar que não sou a única a quem a esquizofrenia do Fernando Pessoa tira o sono e perturba aqueles momentos em que uma pessoa devia não estar a pensar em nada... sim, já sei, se calhar estou a ser má pessoa... mas o que querem?... o mal habita em mim, nada a fazer... durmam bem =)
"O sonho é a pior das cocaínas porque é a mais natural de todas. Assim, se insinua nos hábitos com a facilidade que uma das outras não tem, se prova sem querer, como um veneno dado.Não dói, nao descora, não abate, mas a alma que dele usa fica incurável, porque não há maneira de se separar do seu veneno, que é ela mesma.
O homem vulgar, por mais que dura lhe seja a vida, tem ao menos a felicidade de não a pensar. Viver a vida decorrentemente, exteriormente, como um gato ou um cão - assim fazem os homens gerais, e assim se deve viver a vida para que possa contar a satisfação do gato e do cão.Pensar é destruir. O próprio processo do pensamento o indica para o mesmo pensamento, porque pensar é decompor. Se os homens soubessem meditar no mistério da vida, se soubessem sentir as mil complexidades que espiam a alma em cada pormenor da acção, não agiriam nunca, não viveriam até. Matar-se-iam de assustados, como os que se suicidam para não ser guilhotinados no dia seguinte.
Antefalhei a vida, porque nem sonhando-a ela me pareceu deleitosa.
Chegou até mim o cansaço dos sonhos... Tive ao senti-lo uma sensação externa e falsa, como a de ter chegado ao término de uma estrada infinita. Transbordei de mim não sei para onde, e aí fiquei estagnado e inutil. Sou qualquer coisa que fui. Não me encontro onde me sinto e se me procuro, não sei quem é que me procura. Um tédio a tudo amolece-me. Sinto-me expulso da minha alma.
Assisto a mim. Presenceio-me. as minhas sensações passam diante de não sei que olhar meu como coisas externas. Aborreço-me de mim em tudo. Todas as coisas são, até às suas raízes de mistério, da cor do meu aborrecimento.
Estavam já murchas as flores que as Horas me entregaram. A minha única acção possível é i-las desfolhando lentamente. E isso é tão complexo de envelhecimentos!
A mínima acção é-me dolorosa como uma heroicidade. O mais pequeno gesto pesa-me no ideá-lo, como se fora uma coisa que eu realmente pensasse em fazer.
Não aspiro a nada. Dói-me a vida. Estou mal onde estou e já mal onde penso em poder estar.
O ideal era não ter mais acção do que a acção falsa de um repuxo - subir para cair no mesmo sítio, brilho ao sol sem utilidade nenhuma a fazer som no silêncio da noite para que quem sonhe pense em rios no seu sonho e sorria esquecidamente." in livro do desassossego Bernardo Soares

sexta-feira, novembro 16, 2007

lembrei-me

lembrei-me...
e fiquei feliz por isso... e quando saí de casa, em direccção à praia com um livro na mão, e senti o cheiro da terra, e depois os cheiros das castanhas, fiquei ainda mais feliz... talvez porque a tua ausência continua a ser marcada pela tua presença... já que as memórias continuam nítidas, os cheiros continuam presentes... e a saudade trazem a recordação de momentos extraordinários, de ensinamentos, partilhas, e risos, numa cumplicidade estranha, e quase quase mágica...
mais uma vez, marcas-te o meu dia... mais uma vez sorri por ti... atravessei sempre na passadeira, e ainda andei na estrada sempre na minha mão, "com atenção aos carros, porque eles são perigosos e muitas vezes não nos vêem"... não me molhei mas se isso tivesse acontecido teria mudado logo de meias, porque os "pés frios são o pior para as constipações"... e comi a maçã com casca mas muito bem lavada, porque "hoje já não é como antigamente e os pesticidas são perigosos para a saúde"...


como vês, não me esqueci de nada, e nem me esquecerei!!

(aqui fica um poema do livro que ando a ler... pensei em só por um excerto mas depois seria uma crime cortá-lo, por isso aqui fica... )

Não sei. Falta-me um sentido, um tacto
Para a vida, para a glória...
Para que serve qualquer história,
Ou qualquer facto?

Estou só, só como ninguém ainda esteve,
Oco dentro de mim, sem depois nem antes.
Parece que passam sem ver-me os instantes
Mas passam sem que o seu passo seja leve.

Começo a ler, mas cansa-me o que ainda não li.
Quero pensar, mas dói-me o que irei concluir.
O sonho pesa-me antes de o ter. Sentir
É tudo uma coisa como qualquer coisa que já vi

Não ser nada, ser uma figura de romance,
Sem vida, sem morte material, uma ideia,
Qualquer coisa que nada tornasse útil ou feia,
Uma sombra num chão irreal, um sonho num transe.

Se te queres matar, porque não te queres matar?
Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida,
Se ousasse matar-me, também me mataria...
Ah, se ousares, ousa!
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas
A que chamamos o mundo?
A cinematografia das horas representadas
Por actores de convenções e posses determinadas,
O circo policromo do nosso dinamismo sem fim?
De te serve o teu mundo interior que desconheces?
Talvez, matando-te, o conheças finalmente...
Talvez, acabando, comeces...
E de qualquer forma, se te cansa seres,
Ah, cansa-te nobremente,
E não cantes, como eu, a vida por bebedeira,
Não saúdes como eu a morte em literatura!

Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém...
Sem ti correrá tudo sem ti.
Talvez seja pior para outros existires que matares-te...
Talvez peses mais durando, que deixando de durar...

A mágoa dos outros?...
Tens remorso adiantado
De que te chorem?
Descansa: pouco te chorarão...
O impulso vital apaga as lágrimas pouco a pouco,
Quando não são de coisas nossas,
Quando são do que acontece aos outros, sobretudo a morte,
Porque é a coisa depois da qual nada acontece aos outros...

Primeiro é a angústia, a surpresa da vinda
Do mistério e da falta da tua vida falada...
Depois o horror do caixão visível e material,
E os homens de preto que exercem a profissão de estar ali.
Depois a família a velar, inconsolável e contando anedotas,
Lamentando a pena de teres morrido,
E tu mera causa ocasional daquela carpidação,
Tu verdadeiramente morto, muito mais morto aqui que calculas...
Muito mais morto aqui do que calculas,
Mesmo que estejas muito mais vivo além...

Depois a trágica retirada para o jazigo ou a cova,
E depois o princípio da morte da tua memória.
Há primeiro em todos um alívio
Da Tragédia um pouco maçadora de teres morrido...
Depois a conversa aligeira-se quotidianamente,
E a vida de todos os dias retoma o seu dia...

Depois, lentamente esqueceste.
Só és lembrado em duas datas, aniversariamente:
Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste:
Mais nada, mais nada, absolutamente mais nada.
Duas vezes no ano suspiram por ti os que te amaram,
E uma ou outra vez suspiram se por acaso se fala em ti.

Encara-te a frio, e encara a frio o que somos...
Se queres matar-te, mata-te...
Não tenhas escrúpulos morais, receios de inteligência!...
Que escrúpulos ou receios tem a mecânica da vida?

Que escrúpulos químicos tem o impulso que gera
As seivas, e a circulação, e o amor?
Que memória dos outros tem o ritmo alegre da vida?
Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem,
Não vês que não tens importância absolutamente nenhuma?

És importante para ti, porque é a ti que te sentes.
És tudo para ti, porque para ti és o universo,
E o próprio universo e os outros
Satélites da tua subjectividade objectiva.
És importante para ti porque só tu és importante para ti.
E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?

Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido?
Mas o que é conhecido? O que é que tu conheçes,
Para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial?

Tens, como Falstaff, o amor gorduroso da vida?
E assim a amas materialmente, ama-a ainda mais materialmente:

Torna-te parte carnal da terra e das coisas!
Dispersa-te, sistema físico-químico
De células nocturnamente conscientes
Pela nocturna consciência da inconsciência dos corpos,
Pelo grande cobertor não-cobrindo-nada das aparências,
Pela relva e a erva da proliferação dos seres,
Pele névoa atómica das coisas,
Pelas paredes turbilhonantes
Do vácuo dinâmico do mundo...


Faróis distantes,
De luz subitamente tão acesa,
De noite, no convés, que consequências aflitas!
Mágoa última dos despedidos,
Ficção de pensar...

Faróis distantes...
Incerteza da vida...
Voltou crescendo a luz acesa avançadamente,
No acaso do olhar perdido...

Faróis distantes...
A vida de nada serve...
Pensar na vida de nada serve...
Pensar de pensar na vida de nada serve...

Vamos para longe e a luz que vem grande vem menos grande.
Faróis distantes...

Álvaro de Campos

sábado, novembro 10, 2007

M Fans - actualização

novas candidaturas:

a sócio: diana lopes

vogal do conselho fiscal: Manuel Rodrigues

Pede-se à presidente e a vice-presidente que aprovem ou não as candidaturas a sócios ou a outros cargos pendentes...

obrigada

p.s. Sua Eminência ao ler o comentário da presidente do Seu club afirmou:
"toda a gente é bemvinda à verdade"
assim, todos os sócios foram admitidos....

quinta-feira, novembro 08, 2007

um pc atrasada :p

Bora lá participar! :) ora...

1 - tenho k lavar as mãos sempre que venho da rua... odeio pegar nas coisitas cá de casa com as "mãos da rua". é como se trouxesse cá p'a dentro as energias negativas da sociedade...

2- tb tenho a panca das calorias e inf nutricionais... e antes de comprar um produto já fiz imensas comparações entre as várias marcas ...

3 - tenho um ritual, qd vou a terrinha (entre outras coisas) faço sempre questao de me sentar no chão e partir amêndoas... adoro! :)

4 - chinelos? grrr só em casa... não consigo andar com isso na rua (mt menos com chuva martita)... há qualquer coisa mal com esse calçado... alem disso nao protege os pés e nao consigo suportar pó nos pés durante mt tempo... parece k ando com os pés sujos... detesto...

5 - no metro... vou sempre na 2ª ou na penultima carruagem... num local onde possa ter uma visão global da mesma... acho k assim me sinto mais segura... como se pudesse controlar os passos do ppl k entra e sai! :)

6 - faço outra coisa, k não deve ser comum ao cidadão normal.... qd entro em casa dos meus pais... não chamo por eles... assobio... e a resposta vem no mesmo código! ;) é mt fixe ;)

7 - odeio abrir pacotes de leite... e se isso acontece logo de manha... grrrrrrr fico logo mal disposta... mas depois vejo o =) da te e o meu dia melhora ;)

8 - adoro comer fruta... mas jamais depois da refeiçao.... nao percebo... nao consigo... tenho k comer antes... e sabe mt melhor :)

9 - lol mensalmente compro a minha revistinha de culinaria... mm nunca cozinhando... acho k continuo a espera do dia certo... :s

10 - por fim... ao contrario da grande maioria de raparigas da minha idade...nao gosto de perfumes... nao me agrada a ideia de ser confundida ou comparada com alguem pelo cheiro... e vice-versa...

e tudo! (embora mts mais se pudessem seguir à 10ª lol) :p

ps: venham mais desafios...

terça-feira, novembro 06, 2007

M Fans Club


Vimos por este meio informar a criação de um novo club de fans... se quiseres podes te candidatar... em baixo ficam os estatutos...

Presidente: Sara Marreiros
Vice-presidente: Catarina Lemos
Conselheiro: Jojozito
Aspirantes a sócio:
Ana Coito
Adriana Azevedo
Marta Faria (ocasionalmente)
João galante
Ricardo figueiredo


Para pertencer ao harém de sua Eminência tem de se seguir os seguintes
estatutos:

1. Deus existe na terra sobre a forma de Marco. ("Deus não existe apenas existe Marco" - citação de sua eminência);


2. A Entidade Superior tem SEMPRE razão;

3. A sua orientação espiritual é providenciada pela Entidade Superior;

4. Defender a Sua existência e a Sua credibilidade perante qualquer acusação;

5. Jamais interromper um "screensaver" da Entidade Superior;

6. Atacar qualquer membro pertencente ao IMFC (Inimigos do Marco Fans Club, presidente Teresa, vicepresidente Teresa, sócia confusa Marta Faria);

7. Não estragar ou danificar o santuário de Sua Eminência (
LTI);

8. Visitar, pelo menos uma vez por semana, o santuário divino;


9. Não esquecer a data de nascimento da Entidade Superior (da qual eu não me lembro, mas ele acha que eu me lembro);


10. Adorar a venerar acima de tudo e de todas as coisas a Entidade Superior - MARCO!


11. Viver cada citação de Sua Eminência intensamente.

SLOGAN : "A minha importância é intrínseca à minha existência" - Marco

Este documento foi aprovado por Sua Excelência que se comprometeu a partilhar a sua sabedoria e conhecimento pelo seu harém, tendo como testemunha o conselheiro.


quinta-feira, novembro 01, 2007

Lobo Antunes

hoje, resolvi ser auto-didacta (lol) e dedicar-me um pouco ao meu gosto pela leitura... assim, dei por mim a pesquisar sobre vários escritores e temas que gostaria de ler e saber mais... um deles, sem duvida alguma, e porque ando para ler alguma coisa dele já há algum tempo, é o Lobo Antunes... enquanto pesquisava coisas sobre o seu último livro que me parece bastante interessante (A última Legião), encontrei uma entrevista dele, da qual já tinha lido uns certos excertos e que achei bastante interessante... é opinião dele, e opiniões todos temos, porém acho que pode ser interessante...aqui fica então...

"(...) Este ano, tive um problema de saúde e sofri isso na pele, acho que o problema está ultrapassado mas foi um ano duro. E a minha atitude era sobretudo de espanto, e a minha preocupação era ter uma atitude digna e não cobarde. Vi pessoas com uma coragem extraordinária e aprendi com elas lições de vida, coragem e dignidade. As pessoas comportavam-se como príncipes perante a situação e eu pensava estou aqui com pessoas que são melhores do que eu, com uma imensa dignidade no sofrimento. Isso foi uma coisa que me comoveu muito e fez pensar que vale a pena viver entre os homens e com eles. Todo o sofrimento é injusto... Em nome do quê é que uma criança de três anos morre com um cancro ou uma leucemia? É muito injusto, qual a razão disso? Sempre me intrigou a razão deste sofrimento porque o do interior tê-lo-emos sempre. Estamos carregados de dúvidas e certezas e as perguntas que nos fazemos ficam muitas vezes sem resposta. Porque vivo assim, em que falhei e magoamos pessoas sem darmos conta com uma frase que para nós é completamente anódina. Julgo que o segredo é estarmos atentos aos outros mas frequentemente não estamos e, sobretudo, não reparamos que são diferentes de nós. Daí o problema de escrever, como colocar em palavras coisas que por definição são anteriores às palavras? Como tentar cercá-las com palavras? Há zonas em mim que desconheço, portas que nunca abri e que, no entanto, aparecem nos livros e provocam-me uma certa perplexidade ao querer saber de onde é que isto vem, de que profundidades nossas, que todos temos.
(...)É inútil lutar contra a morte tal como é inútil lutar contra a vida. É inútil porque a morte é uma puta - desculpem o palavrão mas é a única palavra que encontro. Quando o meu pai morreu, o padre que foi rezar a missa disse que detestava aquilo porque nós não fomos feitos para a morte. De facto não fomos... Há pessoas de quem gostávamos e que já não podemos tocar e ver e cuja morte foi tão injusta. Ainda no sábado fui a enterrar um camarada da guerra que morreu num acidente de automóvel. Foi muito comovente ver aqueles homens duros, que fizeram a guerra, a chorar como crianças. Eu chorei também, gostava muito dele e agora quando nos reunirmos ele não vai lá estar. E não faz sentido que o Zé não esteja. Eu tenho que viver pelo meu pai, pelo Cardoso Pires, pelo Melo Antunes, estão dentro de mim até eu acabar.Como contrariar a morte? Ela corre mais depressa do que qualquer um de nós e a única coisa que posso fazer para contrariar é escrever, a única duração que posso ter é a que os livros tiverem. E aborrece-me que seja assim, é injusto que seja assim, embora haja momentos em que todos nós desejamos morrer, de desânimo e solidão. Há momentos em que quase temos inveja dos mortos porque a vida nem sempre é agradável e fácil mas, agora depois de ver as pessoas lutarem no hospital, senti que muitos pensamentos que tinha eram indignos perante tanta grandeza.
(..)Eu agora jogo com as cartas para cima, está tudo à vista porque é a única maneira de viver. Demorei anos a perceber porque o conhecimento da vida chega sempre tarde e pensamos que ocultando conseguimos dar boa imagem aos outros. Agora é: eu sou assim! Peguem, larguem, não posso ser amado pelo mundo inteiro embora a sede de amor seja inextinguível.

Qual é a sua atitude perante Deus?
Existe um velho provérbio húngaro que diz que na cova do lobo não há ateus, por isso julgo que não existe quem não acredite. O nada não existe na física ou na biologia e quando se lêem os grandes físicos entende-se como eram homens profundamente crentes, que chegaram a Deus através da física e da matemática e que falavam de Deus de uma maneira fascinante. A minha relação é a de um espírito naturalmente religioso, cada vez mais, não no sentido desta ou daquela igreja mas porque me parece que a ideia de Deus é óbvia. Cada vez mais o é para mim. É um bocado como diz Einstein, quando afirma que Deus não joga aos dados.
Como é essa relação?
É claro que me zango com Deus porque permite o sofrimento, mas talvez os seus desígnios tenham tais profundezas que não atinjo. O sofrimento sempre me foi incompreensível porque nascemos para a alegria. A minha atitude em relação à religião é essa, não estou a falar de igrejas, estou a falar em relação a Deus e não acredito quando as pessoas dizem que são agnósticas ou ateias. Não estou a dizer que a pessoa não esteja a ser sincera, mas dentro dela e em qualquer ponto há algo... Uma vez perguntaram ao Hemingway se acreditava em Deus e a resposta foi às vezes, à noite.

Então à noite também acredita?
Acredito sempre mas a dúvida e pôr constantemente em questão é próprio da fé. Muitas vezes pergunto-me será que existe? É óbvio que sim."